ATA DA DÉCIMA NONA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 04.06.1992.

 


Aos quatro dias do mês de junho do ano de mil novecentos e noventa e dois reuniu-se, na Sala de Sessões  do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Nona Sessão Solene da Quarta Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a homenagear a República da Itália através do Requerimento nº 14/92 (Processo nº 208/92), do Vereador Vicente Dutra. Às dezessete horas e vinte e quatro minutos constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Dilamar Machado, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhores Adriano Bonasppetti, Membro do Consiglo Generale Degli Italiane Alle Estero a Roma; Carlo Bicchieri, Presidente da Câmara de Comércio Brasil-Itália; Carlo Forte, Presidente do Centro Calabrês; Inês Dalt, Consultora da Regioni Friuli Venezia Giulia; Julio Possinatto, Presidente da Mazzolin di Fiori Societá Italiana; Jornalista Luiz Carlos Machado Lisboa, representando o Prefeito Municipal e Vereador Vicente Dutra, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Ervino Besson, em nome da Bancada do PDT, saudou os presentes e lembrou das Sessões onde esta Casa homenageou a Itália. Falou sobre os povos que estão participando da Eco-92 discutindo sobre ecologia, preocupação dos habitantes deste planeta chamado Terra. Lembrou seus familiares italianos e cantou uma canção. O Vereador Vicente Dutra, proponente e em nome das Bancadas do PDS, PMDB, PTB, PPS e PL, pronunciou-se acerca da homenagem discorrendo sobre o que o Vereador Ervino Besson falou sobre o povo italiano, afirmando que o mesmo mostra ao Mundo de como é possível conviver harmoniosamente com a natureza. Disse que este ano ainda vai ser construído, no shopping, uma praça que levará o nome da Itália. O Vereador Giovani Gregol, em nome da Bancada o PT, disse ser uma honra poder participar desta Sessão na condição de descendente italiano, onde a cultura dos imigrantes engrandeceu o nosso País. Comparou o Brasil com a Itália e disse que a Itália era um Brasil que deu certo. A seguir, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondências referentes ao evento, do Governador do Estado, Senhor Alceu Collares, do Secretário de Estado de Obras, Senhor Jorge Debiagi e do Vice-Governador, Senhor João Gilberto Lucas Coelho. E, ainda, registrou a presença, no Plenário, da Senhora Marli Sfredo da Silva. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Adriano Bonasppetti que falou em nome da República da Itália, agradecendo a homenagem prestada por esta Casa e, também, justificou a ausência do Cônsul da Itália, em virtude de compromissos já assumidos anteriormente. Após, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e quinze minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Dilamar Machado e Secretariados pelo Vereador Vicente Dutra, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Vicente Dutra, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE: Damos por abertos os trabalhos desta Sessão Solene que, por Requerimento do Ver. Vicente Dutra, aprovado pela unanimidade da Casa, homenagearemos a República da Itália.

 

(Lê nominata da Mesa.)

 

Com a palavra, o Ver. Ervino Besson, que fala pela Bancada do PDT.

 

O SR. ERVINO BESSON: Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Dilamar Machado; Sr. Julio Possinato, Presidente da Mazzolin de Fiori; Sr. Representante do Sr. Prefeito Municipal, Jornalista Luiz Carlos Machado Lisboa; Sr. Membro do Consiglo Generale Degli Italiane Alle Estero a Roma, Dr. Adriano Bonasppetti; Ilmo. Sr. Presidente da Câmara de Comércio Brasil/Itália, Dr. Carlo Bicchieri; Sr. Presidente do Centro Calabrês, Dr. Carlo Forte; nossa estimada e querida amiga Dra. Inês. Senhores, eu tinha preparado um pequeno discurso ontem à noite, porém, na Sessão anterior, o perdi.

Quero parabenizar o Ver. Vicente Dutra porque é praxe aqui da Câmara Municipal homenagearmos, a Cidade de Porto Alegre, a Itália. A Itália que tem uma historia neste País e quando se fala na Itália nós que somos de origem italiana ficamos comovidos profundamente.

Em 1814/1815, o Estado do Rio Grande do Sul recebeu mais de 40 mil italianos. Hoje, o mundo inteiro, no Rio de Janeiro discute a Eco-92, a ecologia, a preocupação dos povos deste planeta chamado Terra é a ecologia. A raça italiana, o povo italiano, traz no seu bojo, no berço, a preocupação do mundo no que toca à área da ecologia. A minha família, quando meus avós vieram da Itália, a Família Besson e a Família Marcon foram as primeiras famílias que se instalaram naquela região de Casca. Ali, nós, com aquele calor, com aquele carinho todo especial dos meus avós, que sentimos desde pequeninos, percebíamos a preocupação deles e de meus pais com a ecologia, com a preservação do meio ambiente.

Outros povos, outros paises, talvez não tenham essa mesma preocupação que nós temos desde aqueles tempos. A ecologia, hoje, está em discussão em todo mundo, porque os povos estão se dando conta do crime que cometeram contra a natureza. E que ainda hoje se comete, agredindo o meio ambiente. E é dele que depende a nossa vida; é dele que depende o ser humano. Mas o povo italiano sempre foi voltado para a preservação do meio ambiente, procurando impedir sua destruição. Repito: nem todas as raças tiveram essa mesma preocupação.

Peço que Deus ilumine todos aqueles que hoje se encontram reunidos no Rio de Janeiro discutindo os problemas do meio ambiente, trocando idéias a respeito para uma melhor condição de vida; e que saiam de lá com idéias bem claras, o que representa a preservação do nosso meio ambiente. Em todos os locais desse nosso País, é fácil de notar, sou obrigado aqui fazer uma crítica a outras raças, pois a crítica, quando é construtiva, traz idéias positivas. Talvez muitas pessoas não se deram conta do que representa para a nossa saúde, o nosso meio ambiente. Naquela região, Ver. Vicente Dutra, onde este Vereador foi criado, é fácil verificar onde reside uma família de origem italiana, onde residem outras famílias que não são dessa origem. Tristemente a gente vê aqueles campos pelados, não se vê uma árvore, não se vê, a margem daqueles arroios, aquelas riquezas da nossa época aquilo tudo está se acabando, isto que é educação de um povo. Portanto, me orgulho de ter sangue italiano nas minhas veias. Porque este País, este Planeta Terra, repito mais uma vez, essa raça tem uma história, uma história marcante. Uma história voltada não só assim, mas principalmente para outras gerações que virão. Isto para nós, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, senhoras e senhores que estão hoje aqui no Plenário desta Casa é um orgulho muito grande.

Para encerrar, vou tentar cantar alguma coisa rapidamente, lembrando os velhos tempos, lembrando meus queridos avós, meus queridos pais, já falecidos, quando era praxe, depois de rezar o terço todas as noites antes de ir dormir, nós cantarmos também alguma coisa da nossa origem. Não sou cantor, mas como é um dia festivo, é bom lembrar um pouco da nossa infância e da nossa história.

 

(O Ver. Ervino Besson entoa uma canção italiana.)

 

Viva a Itália e viva o Brasil! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Antes de passarmos a palavra ao próximo orador, proponente desta homenagem à República da Itália, tenho a honra de convidar a passar à Mesa, até para ligar a República da Itália, de Sul a Norte, o Presidente da Mazzolin di Fiori Societá Italiana, Sr. Júlio Possinatto. Registramos a presença, também, da Vice-Presidente da Mazzolin di Fiori, Srª Marli Sfredo da Silva.

Com a palavra o proponente desta homenagem, esperando que também nos brinde com uma canção italiana, Cavallieri Ver. Vicente Dutra, que fala em nome das Bancadas do PDS, PMDB, PTB, PPS e PL.

 

O SR. VICENTE DUTRA: Exmº. Sr. Presidente deste Legislativo, Ver. Dilamar Machado; Sr. Representante do Prefeito Municipal, Jornalista Luiz Carlos Machado Lisboa; Sr Dr. Adriano Bonasppetti, Presidente da nossa COMITES; Sr. Presidente do Centro Calabrês do RS, Carlo Forte; Srª Consultora da Regioni Friuli Venezia Giulia, Drª Inês Dalt; ilustre Júlio Possinatto, Presidente da Soc. Mazzolin di Fiori e sua Vice-Presidente; demais companheiros, Carmini Severino, Domenico Feoli, Paulo Boneresi que representa o Jornal do Comércio.

Sr. Presidente, eu gostaria de ter o encanto e a singeleza do orador que me antecedeu. Se pudéssemos, aqui nesta Casa, ter uma unanimidade em termos de companheirismo, se tivéssemos a escolha do melhor companheiro desta Casa, sem dúvida ganharia disparado o Ver. Ervino Besson. E com essa demonstração de singeleza que ele nos faz da tribuna, aflora, também, a sensibilidade do italiano. O italiano que veio, deixou a sua terra, deixou suas plagas, enfrentou mar, enfrentou  o desconhecido e veio aqui para a América, mas não perdeu a sensibilidade que é um ponto característico da nossa raça, como ele diz, da nossa comunidade. Por isso, nada mais restaria a ser dito, Sr. Presidente, com a oportunidade muito feliz com que coloca o seu discurso o Ver. Ervino Besson, destacando uma característica fundamental no dia de hoje que é o cuidado com a natureza que o italiano tem. O italiano, realmente, dá demonstrações ao mundo de como conviver harmoniosamente com a natureza, servindo-se da natureza, sendo senhor da natureza, de acordo com o que determina os Evangelhos, mas sem destruir a natureza, pelo contrário, participando e harmonicamente convivendo com ela.

Muito feliz o Ver. Ervino Besson que nos emoldurou com esta canção daquele tempo.

Hoje, Sr. Presidente – normalmente faço uma retrospectiva da Itália ressaltando aquelas coisas importantes que esta contribuiu para o Brasil e particularmente o mundo, e particularíssimamente com a nossa capital - vou-me dispensar de fazer isto hoje. Vou registrar os 46 anos que a Câmara comemora hoje, embora a festa tenha sido dia 2 de junho de 1946, data do início da nova República Italiana.

A Itália tem muito a nos oferecer, vejo aqui o Ver. Giovani Gregol que certamente vai-nos falar depois como historiador que é, pois sempre fico encantado ao ouvir as histórias que ele conta da Itália.

A Itália nestes 46 anos tem muito a nos oferecer de exemplos e até muito recentes. Nós que somos defensores do Parlamentarismo tivemos há poucas semanas um exemplo do que é a grandeza da nossa Itália. Houve aquele episodio da morte trágica do Juiz Falconi, um homem de coragem que enfrentou e sabia que tinha seus dias contados. Li algumas entrevistas dele, sempre dizia que tinha seus dias contados, sabia que um dia ou outro seria pego pela Máfia, como foi.

Toda a Itália comovida, emocionada, mas, exatamente no dia em que ele estava sendo enterrado, sendo conduzido a sua última moradia, aquele bravo homem, a Itália nos dá uma demonstração do que a força política consegue, se vai na linha do Parlamentarismo, naquele mesmo dia escolheu o Presidente da República, que estava com dificuldade de conseguir o escrutínio para obter os votos necessários previstos na Constituição. Naquele dia, o que derruba aquelas idéias de que o Parlamentarismo é um regime fraco. Fraco seria se não tivessem escolhido o Presidente da República, naquele dia de comoção, esperariam mais um pouco. Fraco seria se Churchil não tivesse enfrentado as bombas alemãs como enfrentou. O Parlamentarismo nos demonstra, nesta semana tão recente, com este episódio, que é realmente um sistema de governo que dá resposta certa num momento de crise, não tem crise que fique adiada. Esse é o grande exemplo que nos dá nos dias de hoje a nossa querida República Italiana. Esse  ano ainda registramos uma data importante 500 anos de descobrimento da América. E nós sabemos que quem comandava esses descobrimentos, as caravelas, era um Genovês lá da terra do Adriano Bonasppetti, lá da Ligúria terra também do Sr. Cônsul. Então neste ano, acho que em outubro, teremos aqui alguns eventos para registrar a data tão importante dos 500 anos do descobrimento da América por um italiano. E sabemos, que o Bonasppetti me deu muitos detalhes, lá da Ligúria, Gênova, saiam os grandes navegadores, não foi só Cristóvão Colombo, Colombo foi um dos produtos gerados numa grande escola de navegadores que existia lá em Gênova. É uma curiosidade muito interessante e eu aprendi há poucos dias.

Para encerrar, companheiros italianos, eu faria uma conclamação, nós, a nossa colônia Italiana precisa estar mais unida. Nós sabemos que existem associações regionais, a Inês preside uma; o Carlos Forte, outra e outras existem. São importantes, porque mantém a tradição da religião, inclusive a língua, o dialeto. Isso é uma coisa maravilhosa e nós devemos estimular as associações regionais, mas nunca perder a perspectiva da unidade. Que essa divisão regional, inclusive de norte e sul não possa servir para nos dividir, que não caminhemos para esse rumo, porque aí estaremos dando um exemplo muito ruim para as demais raças e para os nossos filhos que são brasileiros, nossos netos, nossos parentes, todos os brasileiros que conosco vivem. Vamos nos unir, nós temos um desafio que através do comando firme que Bonasppetti tem incentivado, e eu já sou um dos entusiastas dessa idéia, de que ela sirva assim febrilmente a todos nós, que construamos a nossa casa de Itália. Agora a Praça de Itália já iniciou a construção. É um projeto de um bilhão e seiscentos milhões, que não vai sair um tostão para Porto Alegre, vai ser construído, como vocês sabem pelo empreendimento do shopping. Foi um achado aquilo. Pois ali vai ser construído o recanto mais bonito de Porto Alegre, que levará o nome da nossa querida Itália, que sirva também de ponto de união. Mas vamos nos unir em torno da Casa de Itália, porque ali na Casa de Itália, e nós temos o potencial para fazer, Vladimir tu que não é italiano, mas na tua mente corre o entusiasmo de italiano, casado com Denise, aquela querida Italiana. Vamos nos unir, que lá dentro desta Casa, aquilo pode ser um palácio, nós conversamos sobre isto. Nós temos potencialidade não para fazer uma casinha pra alugar aqui ou acolá alguma coisa construída, Ver. Gregol, nós temos potencial para fazer um palácio aqui. E lá neste palácio que seria a Casa de Itália, tenhamos as divisões regionais para agrupar todas as regiões que fazem presente na nossa colônia Italiana aqui de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, mas estejamos unidos em torno desse desafio.

De minha parte meu caro Bonasppetti, já estou inteiramente imbuído em campanha para que um dia nós possamos concretizar esse ideal e construir aqui em Porto Alegre a nossa Casa de Itália. E tenho certeza que muito breve, se todos se impregnassem dessa idéia, nós haveremos num já, construirmos uma Casa, que servirá para congregar, para confraternizarmos entre nós, entre as regiões, entre as Cidades, entre os diversos dialetos. Coisa maravilhosa divulgada por nossos filhos e confraternizarmos com os demais da Cidade, que esta Casa sirva para receber, para divulgar as coisas da Itália, a todos quantos tenham admiração e convívio conosco.

Esta é a conclamação, que modestamente, como membro Vereador desta Casa, faço neste momento, com uma mensagem que deixaria aqui hoje para que todos nós nos unamos em torno desta idéia e possamos quem sabe no ano que vem, não sei se estarei aqui, porque este é ultimo ano de legislatura, mas vou procurar estar. Mas se não estiver como Vereador, estarei como ouvinte, alguém haverá de fazer a homenagem a Itália. Mas vou fazer todo empenho de que seja eu, para que possamos estar aqui, quem sabe dia 2, 3 ou 4 de junho, porque nem sempre coincide aqui com a estrutura da Casa, já com a feliz idéia de que a construção estará em andamento quem sabe até concluída a nossa Casa de Itália.

Conta comigo, Adriano, com esta iniciativa e tenho certeza que contará com o apoio de todos os Italianos de boa vontade. Muito obrigado, um abraço a todos.

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Passamos a palavra ao nobre Ver. Giovani Gregol, que falará em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. GIOVANI GREGOL: (Menciona os componentes da Mesa.) Esta homenagem é sempre uma honra renovada à Bancada do Partido dos Trabalhadores nesta Casa que ao mesmo tempo é a Bancada governista.

A nós cabe, junto com outros partidos menores, a responsabilidade alta de governar esta Cidade de quase 1,5 milhão de pessoas e também a este Vereador que vos fala, pessoalmente, vir aqui, mais uma vez, homenagear a República Italiana.

Em primeiro lugar gostaria de pedir escusas pelo atraso, mas a Sra. Secretária de Educação do Município, Dra. Esther Grossi me chamou para tratar de assuntos de emergência e em função disso repassamos ao Ver. Vicente Dutra, já tradicional solicitante desta reunião, a representação do nosso Partido, mas estava nervoso, ansioso por chegar e já chegando na Casa ouvi a canção, não perdi, felizmente, a bonita canção do nosso amigo Ver. Ervino Besson, também tradicional freqüentador deste momento. Para mim, esta Casa homenageia todos os anos vários paises, várias nações, várias nacionalidades, culturas; para mim a homenagem à Itália, por motivos óbvios é a mais importante, a mais carregada de emoção e de sentimentos por ser descendente direto apesar de haver nascido em Porto Alegre, mas tem muito da sua vida, da sua cultura marcada pela cultura dos imigrantes italianos, que aqui vieram engrandecer o nosso País. Não pretendo repetir o que disse nas oportunidades anteriores, da cultura italiana, que é uma das principais culturas pois é uma cultura milenar, e uma das principais contribuições da chamada cultura ocidental: a história de Roma, que é a base da cultura ocidental, que resgatou o cristianismo, a própria estrutura do império romano adotou a si a religião cristã, a principal religião, e com esta fusão, das suas várias contribuições, pois era uma religião de origem oriental, onde viveu, morreu Jesus Cristo é o Oriente Médio, através dessa fusão se propiciou de tudo isso que é hoje a dita cultura ocidental cristã, com tudo que ela traz. Amanhã dia 05 de junho, estamos em plena Semana do Meio Ambiente acontece a chamada maior conferência, maior encontro de chefes de Estado, onde se tenta redirecionar a nossa civilização ocidental, que hoje já tomou conta do mundo, porque o Oriente, a Coréia, o Japão adotaram a nossa forma de viver e de pensar, aonde a contribuição italiana, da Renascença, do Nacionalismo, do Humanismo tem o peso decisivo de consertar aqueles erros que, como em qualquer cultura que já existiu e que certamente irá existir, a nossa também tem. Mas, tenta corrigir.

A própria tradição científica, a tecnológica, a religiosa ainda hoje, e talvez com significado imprevisto para o futuro, talvez mais importante do que possamos imaginar, o cristianismo especificamente, o catolicismo, inclusive através de S. Santidade o Papa, exerce sobre a opinião pública internacional uma influência bastante grande, até inusitada àqueles que achavam que a nossa época era de descrença, uma época de pouca fé. Mas, parece-me - esta é uma avaliação muito pessoal – que assim como cresce a consciência, renasce a preocupação com a natureza, como ambiente, também renasce – ou deve – a fé nas coisas do espírito, através do cristianismo, através de outras tradições. Agora, domingo, chega a Porto Alegre S. Santidade o XIV Dalai Lama, que é o líder espiritual de centenas de milhões de budistas pelo mundo afora, que nos dará a honra de sua visita e nesta semana recebeu o Título de Cidadão Porto-alegrense, dado por esta Casa, por unanimidade.

Sempre gosto de comparar o Brasil, nossa pátria, com a Itália, e encontrar as diferenças e identidades. As diferenças são muitas. Algumas saltam aos olhos, como a extensão; o Brasil é um gigante territorial; a Itália é um gigante cultural, sua história. No Brasil, se fala uma única língua; na Itália, duzentos dialetos e é um território um pouco maior que o Estado do Rio Grande do Sul. Mas, somos latinos, falamos línguas que vêm do latim – a nossa, o português, chamado a “última flor do Lácio”. Temos muito em comum. A Itália é uma simplificação, é uma espécie de Brasil que deu certo, um povo de cultura latina, de longa tradição cultural, talvez não fosse o nosso caso, mas se formos considerar os povos indígenas nós temos no Brasil 30 mil anos. Os arqueólogos já comprovaram que o homem habita o que hoje é o território brasileiro há 30 mil anos, pelo menos comprovado até agora. Países, como no nosso caso que é pobre, continuam muito pobres, parece que se empobrecendo ultimamente, mas esperamos que isso seja temporário e a Itália é um país que saiu da guerra, país com muitas riquezas naturais mas que saiu da Segunda Guerra Mundial arrasado, como hoje o nosso país que não saiu de nenhuma guerra, aparentemente, mas vive uma espécie de guerra civil. Está com a sua economia, através da política recessiva, arrasada, mas a Itália soube unir o seu povo com democracia, através de uma república que negou um regime totalitário, viveu, aprendeu e renegou o regime totalitário do fascismo e através de uma democracia que é uma das mais perfeitas do mundo, com absoluta liberdade  de todos os partidos, comunista, socialista, democratas-cristãos e assim por diante, conseguiu unir e conseguiu hoje ser uma das principais potências econômicas. Isso seria pouco porque eu acho que a riqueza por si só não se justifica, ela só se justifica na medida em que ela traz melhoria da qualidade de vida, mais felicidade, que é uma coisa que os economistas não conseguem medir, infelizmente, e por isso alguns acham que não é importante e a Itália conseguiu fazer o seu povo mais feliz, viver uma melhor qualidade de vida. Isso é um exemplo muito grande, eu pelo menos penso assim, porque há aqueles que sustentam ainda aquela tese absurda que o mundo latino não dá certo, que só os povos dos climas temperados é que deram certo, só essas civilizações. Está aí o Egito, uma das maiores civilizações que já existiram e que absolutamente não vivia num clima temperado e a Itália, mais recentemente, mostra que não é assim, que é possível ter riqueza com democracia e resguardando a adversidade, que é uma das características que temos em comum com a Itália.

Eu fiz uma comparação com a língua, mas as diferenças culturais, as diferenças geográficas que a Itália tem dentro da sua pequenês que é apenas geográfica corresponde a muitas das complexidades que o Brasil também tem e que ele também não consegue concatenar. Também a boa administração que foi citada antes pelo Ver. Ervino Besson dos recursos naturais como é que a Itália consegue ser uma potência com tão poucos recursos naturais, com pouca água, com pouca energia, isso é um exemplo pra nós que desperdiçamos tanto os nossos recursos. E ainda somos um dos povos mais pobres do mundo. E a Itália, para concluir, o Ver. Vicente Dutra percebeu muito bem, nesse momento em que a Itália, em que o Estado italiano, em que a própria nação chora um dos seus filhos mais ilustres, nesse momento em que alguns inclusive na própria Itália e pelo mundo afora, temem, reconhecendo ou não publicamente o futuro da democracia e da república italiana, nós não poderíamos deixar aqui também de assinalar este aspecto e dizer que nós nos preocupamos, nós brasileiros, nós principalmente ítalo-brasileiros nos preocupamos, nós damos solidariedade a nossa segunda Pátria que é a Itália e também nós temos para ela os olhos voltados no sentido de que ela continue sendo o exemplo para nós. Porque lá na Itália se assassinou o juiz Giovani Falconi, através dele se tenta assassinar a democracia. Lá na Itália a máfia está fora do Governo. Fala-se em crise de governabilidade. Vejam que interessante, exatamente o que se fala aqui no nosso País hoje, fala-se lá em denúncias. Lá a máfia está fora do Governo, não vou dizer mais nada os senhores entenderão. Aqui se fazem denúncias seríssimas contra a pessoa do Presidente, não se sabe qual é o nosso futuro político. O nosso futuro econômico, isto a curto, longo e médio prazo. Alguns falam inclusive em impeachment falam da possibilidade ou até da necessidade do Vice-Presidente, ou do Presidente da Câmara assumir, então são dias paralelamente tristes. Mas a Itália já está dando de novo exemplo ao mundo, já está superando este momento. O Parlamento Italiano escolheu um novo chefe, a Itália não está acéfala, e o Estado italiano de mãos dadas com o povo está e continuará combatendo esse câncer que é a máfia e outras uniões e malfeitores que existem naquele País. Que exemplo para nós brasileiros? Que grande exemplo para nós brasileiros, que não devemos apesar das dificuldades desistir como os italianos não estão desistindo. E tendo a bandeira da Pátria e a felicidade do povo, tanto o italiano como o brasileiro, juntamente com o sentimento profundo de humanidade, de religiosidade até, que é um dos fatores comuns entre as nossas culturas, as nossas histórias, nós também saberemos, se Deus quiser e com a ajuda de todos, superar esses momentos tristes que o nosso País vive e reafirmar a soberania do nosso povo e o seu direito à felicidade. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Antes de passar a palavra ao próximo orador, comunico o recebimento de mensagens do Secretário Jorge Debiagi, titular da Secretaria de Obras do Estado; do Vice-Governador João Gilberto Lucas Coelho; do Dep. Marcelo Mincarone e do Governador do Estado Alceu Collares, todos se manifestando com carinho em relação a esta homenagem e escusando-se da ausência por compromissos anteriormente assumidos.

Tenho a honra de passar a palavra, para falar em nome da República da Itália, homenageada nesta data, ao Dr. Adriano Bonasppetti.

 

O SR. ADRIANO BONASPPETTI: Exm° Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre Ver. Dilamar Machado; demais autoridades presentes; demais pessoas que aqui comparecem. Agradeço em nome do Cônsul-Geral da Itália Dr. Martini, que devido a compromissos assumidos anteriormente não pôde comparecer a esta Casa, a esta homenagem que a Cidade de Porto Alegre, pelos seus Vereadores, está fazendo ao nosso País por ocasião da sua data nacional. A nossa gente se adaptou facilmente e está totalmente integrada na sociedade local, contribuindo com muitos valores para a formação do gaúcho de hoje. Um terço da população do RS atualmente é de origem italiana e muitos são os casamentos mistos. Isso seria o suficiente para ressaltar a importância da nossa etnia para essa comunidade. Mas quero também dizer que nós, italianos, participamos, em muitas outras ocasiões na formação deste Estado. Os primeiros imigrantes foram alguns genoveses, marinheiros e comerciantes, que se instalaram em Porto Alegre e em algumas cidades do litoral, especialmente Rio Grande. Posteriormente, na Guerra dos Farrapos – hoje pouca gente lembra os nossos italianos tiveram uma participação bastante grande. Tito Livio Zambecari, que foi aprisionado em Fanfa junto com Bento Gonçalves, foi um dos líderes da Revolução. Tivemos Rossini, um jornalista dos Farrapos, aquele que redigia o jornal dos Farrapos, tivemos entre muitos outros italianos que participaram dessa epopéia, o nosso conhecido Garibaldi. Garibaldi foi um marco na formação do Estado e não foi só ele, foram dezenas, centenas de outros patrícios que participaram da Guerra dos Farrapos. Depois chegaram os vênetos, os lombardos, que saíram da Itália por causa das guerras da Independência. Vêneto, a Lombardia, especialmente Vêneto, foram campos de batalha e como esses povos eram praticamente agricultores, tiveram suas terras arrasadas, perderam as colheitas e muitos tiveram que emigrar. Pobres, sem nada, vieram aqui para ajudar na formação deste Estado. Alguns lombardos, aliás, muitos, trentinos e também houve outra emigração, dos meridionais, calabreses, especialmente, que vieram para Porto Alegre, também se fixaram no Sul do Estado, o que pouca gente sabe, em Santa Vitória do Palmar, alguns em Livramento. Vieram sicilianos, portugueses, também, temos aqui o nosso amigo Rosenato que está presente. De todas as regiões da Itália, creio que não falta nenhuma região aqui neste Estado. Os meridionais se instalaram mais nas cidades, como comerciantes e artesãos, os vênetos e lombardos, como já disse, como agricultores, mas todos trabalharam e contribuíram para que este Estado progredisse e chegasse ao que hoje é, um dos principais do País.

Não preparei discurso, não quero me delongar neste momento, mas acho que não tenho muito a dizer, porque todos conhecem o trabalho da nossa comunidade, realizado neste Estado, neste País e no mundo inteiro. Hoje existem mais de cem milhões de italianos, ou descendentes de italianos em todo o mundo, fora da Itália existem mais italianos do que na Itália, como existem mais moraneses fora de Morano Calabro. Falo em moraneses, porque Porto Alegre é uma segunda Marano Calabro e são italianos também.

Então, voltando à questão Porto Alegre, quero também agradecer a esta Casa por ter-nos brindado com um terreno, não à nossa comunidade, mas ter dado o nome de Praça de Itália a um terreno de onze mil metros quadrados, num dos locais mais nobres de Porto Alegre, aqui perto do shopping Beira Rio e que em breve será construído a Praça Itália neste local.

Também agradeço a presença de todos que aqui estão para homenagear a nossa data nacional. Muito obrigado a todos.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Quero agradecer a todos, em nome do proponente, Ver. Vicente Dutra; agradeço a honra de estarem conosco na Mesa, aos amigos italianos: Carlo, Adriano, D. Inês, Jornalista Lisboa representando o Prefeito. Agradeço a todos que se fizeram presentes.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h15min.)

 

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