ATA DA DÉCIMA NONA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 04.06.1992.
Aos quatro dias do mês de junho
do ano de mil novecentos e noventa e dois reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal
de Porto Alegre, em sua Décima Nona Sessão Solene da Quarta Sessão Legislativa
Ordinária da Décima Legislatura, destinada a homenagear a República da Itália
através do Requerimento nº 14/92 (Processo nº 208/92), do Vereador Vicente
Dutra. Às dezessete horas e vinte e quatro minutos constatada a existência de
“quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os
Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades
presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Dilamar Machado, Presidente da Câmara
Municipal de Porto Alegre; Senhores Adriano Bonasppetti, Membro do Consiglo
Generale Degli Italiane Alle Estero a Roma; Carlo Bicchieri, Presidente da
Câmara de Comércio Brasil-Itália; Carlo Forte, Presidente do Centro Calabrês;
Inês Dalt, Consultora da Regioni Friuli Venezia Giulia; Julio Possinatto,
Presidente da Mazzolin di Fiori Societá Italiana; Jornalista Luiz Carlos
Machado Lisboa, representando o Prefeito Municipal e Vereador Vicente Dutra,
Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos
Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Ervino Besson, em nome da
Bancada do PDT, saudou os presentes e lembrou das Sessões onde esta Casa
homenageou a Itália. Falou sobre os povos que estão participando da Eco-92
discutindo sobre ecologia, preocupação dos habitantes deste planeta chamado
Terra. Lembrou seus familiares italianos e cantou uma canção. O Vereador
Vicente Dutra, proponente e em nome das Bancadas do PDS, PMDB, PTB, PPS e PL,
pronunciou-se acerca da homenagem discorrendo sobre o que o Vereador Ervino
Besson falou sobre o povo italiano, afirmando que o mesmo mostra ao Mundo de
como é possível conviver harmoniosamente com a natureza. Disse que este ano
ainda vai ser construído, no shopping, uma praça que levará o nome da Itália. O
Vereador Giovani Gregol, em nome da Bancada o PT, disse ser uma honra poder
participar desta Sessão na condição de descendente italiano, onde a cultura dos
imigrantes engrandeceu o nosso País. Comparou o Brasil com a Itália e disse que
a Itália era um Brasil que deu certo. A seguir, o Senhor Presidente registrou o
recebimento de correspondências referentes ao evento, do Governador do Estado,
Senhor Alceu Collares, do Secretário de Estado de Obras, Senhor Jorge Debiagi e
do Vice-Governador, Senhor João Gilberto Lucas Coelho. E, ainda, registrou a
presença, no Plenário, da Senhora Marli Sfredo da Silva. Após, o Senhor
Presidente concedeu a palavra ao Senhor Adriano Bonasppetti que falou em nome
da República da Itália, agradecendo a homenagem prestada por esta Casa e,
também, justificou a ausência do Cônsul da Itália, em virtude de compromissos
já assumidos anteriormente. Após, o Senhor Presidente agradeceu a presença de
todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às
dezoito horas e quinze minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão
Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo
Vereador Dilamar Machado e Secretariados pelo Vereador Vicente Dutra, Secretário
“ad hoc”. Do que eu, Vicente Dutra, Secretário “ad hoc”, determinei fosse
lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos senhores
Presidente e 1º Secretário.
O SR. PRESIDENTE: Damos por abertos os trabalhos desta Sessão Solene que,
por Requerimento do Ver. Vicente Dutra, aprovado pela unanimidade da Casa,
homenagearemos a República da Itália.
(Lê
nominata da Mesa.)
Com
a palavra, o Ver. Ervino Besson, que fala pela Bancada do PDT.
O SR. ERVINO BESSON: Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre,
Ver. Dilamar Machado; Sr. Julio Possinato, Presidente da Mazzolin de Fiori; Sr.
Representante do Sr. Prefeito Municipal, Jornalista Luiz Carlos Machado Lisboa;
Sr. Membro do Consiglo Generale Degli Italiane Alle Estero a Roma, Dr. Adriano
Bonasppetti; Ilmo. Sr. Presidente da Câmara de Comércio Brasil/Itália, Dr.
Carlo Bicchieri; Sr. Presidente do Centro Calabrês, Dr. Carlo Forte; nossa
estimada e querida amiga Dra. Inês. Senhores, eu tinha preparado um pequeno
discurso ontem à noite, porém, na Sessão anterior, o perdi.
Quero
parabenizar o Ver. Vicente Dutra porque é praxe aqui da Câmara Municipal
homenagearmos, a Cidade de Porto Alegre, a Itália. A Itália que tem uma
historia neste País e quando se fala na Itália nós que somos de origem italiana
ficamos comovidos profundamente.
Em
1814/1815, o Estado do Rio Grande do Sul recebeu mais de 40 mil italianos.
Hoje, o mundo inteiro, no Rio de Janeiro discute a Eco-92, a ecologia, a
preocupação dos povos deste planeta chamado Terra é a ecologia. A raça
italiana, o povo italiano, traz no seu bojo, no berço, a preocupação do mundo
no que toca à área da ecologia. A minha família, quando meus avós vieram da
Itália, a Família Besson e a Família Marcon foram as primeiras famílias que se
instalaram naquela região de Casca. Ali, nós, com aquele calor, com aquele
carinho todo especial dos meus avós, que sentimos desde pequeninos, percebíamos
a preocupação deles e de meus pais com a ecologia, com a preservação do meio
ambiente.
Outros
povos, outros paises, talvez não tenham essa mesma preocupação que nós temos
desde aqueles tempos. A ecologia, hoje, está em discussão em todo mundo, porque
os povos estão se dando conta do crime que cometeram contra a natureza. E que
ainda hoje se comete, agredindo o meio ambiente. E é dele que depende a nossa
vida; é dele que depende o ser humano. Mas o povo italiano sempre foi voltado
para a preservação do meio ambiente, procurando impedir sua destruição. Repito:
nem todas as raças tiveram essa mesma preocupação.
Peço
que Deus ilumine todos aqueles que hoje se encontram reunidos no Rio de Janeiro
discutindo os problemas do meio ambiente, trocando idéias a respeito para uma
melhor condição de vida; e que saiam de lá com idéias bem claras, o que
representa a preservação do nosso meio ambiente. Em todos os locais desse nosso
País, é fácil de notar, sou obrigado aqui fazer uma crítica a outras raças,
pois a crítica, quando é construtiva, traz idéias positivas. Talvez muitas
pessoas não se deram conta do que representa para a nossa saúde, o nosso meio
ambiente. Naquela região, Ver. Vicente Dutra, onde este Vereador foi criado, é
fácil verificar onde reside uma família de origem italiana, onde residem outras
famílias que não são dessa origem. Tristemente a gente vê aqueles campos
pelados, não se vê uma árvore, não se vê, a margem daqueles arroios, aquelas
riquezas da nossa época aquilo tudo está se acabando, isto que é educação de um
povo. Portanto, me orgulho de ter sangue italiano nas minhas veias. Porque este
País, este Planeta Terra, repito mais uma vez, essa raça tem uma história, uma
história marcante. Uma história voltada não só assim, mas principalmente para
outras gerações que virão. Isto para nós, Sr. Presidente, Srs. Vereadores,
senhoras e senhores que estão hoje aqui no Plenário desta Casa é um orgulho
muito grande.
Para
encerrar, vou tentar cantar alguma coisa rapidamente, lembrando os velhos
tempos, lembrando meus queridos avós, meus queridos pais, já falecidos, quando
era praxe, depois de rezar o terço todas as noites antes de ir dormir, nós
cantarmos também alguma coisa da nossa origem. Não sou cantor, mas como é um
dia festivo, é bom lembrar um pouco da nossa infância e da nossa história.
(O
Ver. Ervino Besson entoa uma canção italiana.)
Viva
a Itália e viva o Brasil! Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Antes de passarmos a palavra ao próximo orador,
proponente desta homenagem à República da Itália, tenho a honra de convidar a
passar à Mesa, até para ligar a República da Itália, de Sul a Norte, o
Presidente da Mazzolin di Fiori Societá Italiana, Sr. Júlio Possinatto.
Registramos a presença, também, da Vice-Presidente da Mazzolin di Fiori, Srª
Marli Sfredo da Silva.
Com
a palavra o proponente desta homenagem, esperando que também nos brinde com uma
canção italiana, Cavallieri Ver. Vicente Dutra, que fala em nome das Bancadas
do PDS, PMDB, PTB, PPS e PL.
O SR. VICENTE DUTRA: Exmº. Sr. Presidente deste Legislativo, Ver. Dilamar
Machado; Sr. Representante do Prefeito Municipal, Jornalista Luiz Carlos
Machado Lisboa; Sr Dr. Adriano Bonasppetti, Presidente da nossa COMITES; Sr.
Presidente do Centro Calabrês do RS, Carlo Forte; Srª Consultora da Regioni
Friuli Venezia Giulia, Drª Inês Dalt; ilustre Júlio Possinatto, Presidente da Soc.
Mazzolin di Fiori e sua Vice-Presidente; demais companheiros, Carmini Severino,
Domenico Feoli, Paulo Boneresi que representa o Jornal do Comércio.
Sr.
Presidente, eu gostaria de ter o encanto e a singeleza do orador que me
antecedeu. Se pudéssemos, aqui nesta Casa, ter uma unanimidade em termos de
companheirismo, se tivéssemos a escolha do melhor companheiro desta Casa, sem
dúvida ganharia disparado o Ver. Ervino Besson. E com essa demonstração de
singeleza que ele nos faz da tribuna, aflora, também, a sensibilidade do
italiano. O italiano que veio, deixou a sua terra, deixou suas plagas,
enfrentou mar, enfrentou o desconhecido
e veio aqui para a América, mas não perdeu a sensibilidade que é um ponto
característico da nossa raça, como ele diz, da nossa comunidade. Por isso, nada
mais restaria a ser dito, Sr. Presidente, com a oportunidade muito feliz com
que coloca o seu discurso o Ver. Ervino Besson, destacando uma característica
fundamental no dia de hoje que é o cuidado com a natureza que o italiano tem. O
italiano, realmente, dá demonstrações ao mundo de como conviver harmoniosamente
com a natureza, servindo-se da natureza, sendo senhor da natureza, de acordo
com o que determina os Evangelhos, mas sem destruir a natureza, pelo contrário,
participando e harmonicamente convivendo com ela.
Muito
feliz o Ver. Ervino Besson que nos emoldurou com esta canção daquele tempo.
Hoje,
Sr. Presidente – normalmente faço uma retrospectiva da Itália ressaltando
aquelas coisas importantes que esta contribuiu para o Brasil e particularmente
o mundo, e particularíssimamente com a nossa capital - vou-me dispensar de
fazer isto hoje. Vou registrar os 46 anos que a Câmara comemora hoje, embora a
festa tenha sido dia 2 de junho de 1946, data do início da nova República Italiana.
A
Itália tem muito a nos oferecer, vejo aqui o Ver. Giovani Gregol que certamente
vai-nos falar depois como historiador que é, pois sempre fico encantado ao
ouvir as histórias que ele conta da Itália.
A
Itália nestes 46 anos tem muito a nos oferecer de exemplos e até muito
recentes. Nós que somos defensores do Parlamentarismo tivemos há poucas semanas
um exemplo do que é a grandeza da nossa Itália. Houve aquele episodio da morte
trágica do Juiz Falconi, um homem de coragem que enfrentou e sabia que tinha
seus dias contados. Li algumas entrevistas dele, sempre dizia que tinha seus
dias contados, sabia que um dia ou outro seria pego pela Máfia, como foi.
Toda
a Itália comovida, emocionada, mas, exatamente no dia em que ele estava sendo
enterrado, sendo conduzido a sua última moradia, aquele bravo homem, a Itália
nos dá uma demonstração do que a força política consegue, se vai na linha do
Parlamentarismo, naquele mesmo dia escolheu o Presidente da República, que
estava com dificuldade de conseguir o escrutínio para obter os votos
necessários previstos na Constituição. Naquele dia, o que derruba aquelas
idéias de que o Parlamentarismo é um regime fraco. Fraco seria se não tivessem
escolhido o Presidente da República, naquele dia de comoção, esperariam mais um
pouco. Fraco seria se Churchil não tivesse enfrentado as bombas alemãs como
enfrentou. O Parlamentarismo nos demonstra, nesta semana tão recente, com este
episódio, que é realmente um sistema de governo que dá resposta certa num
momento de crise, não tem crise que fique adiada. Esse é o grande exemplo que
nos dá nos dias de hoje a nossa querida República Italiana. Esse ano ainda registramos uma data importante
500 anos de descobrimento da América. E nós sabemos que quem comandava esses
descobrimentos, as caravelas, era um Genovês lá da terra do Adriano
Bonasppetti, lá da Ligúria terra também do Sr. Cônsul. Então neste ano, acho
que em outubro, teremos aqui alguns eventos para registrar a data tão
importante dos 500 anos do descobrimento da América por um italiano. E sabemos,
que o Bonasppetti me deu muitos detalhes, lá da Ligúria, Gênova, saiam os
grandes navegadores, não foi só Cristóvão Colombo, Colombo foi um dos produtos
gerados numa grande escola de navegadores que existia lá em Gênova. É uma
curiosidade muito interessante e eu aprendi há poucos dias.
Para
encerrar, companheiros italianos, eu faria uma conclamação, nós, a nossa
colônia Italiana precisa estar mais unida. Nós sabemos que existem associações
regionais, a Inês preside uma; o Carlos Forte, outra e outras existem. São
importantes, porque mantém a tradição da religião, inclusive a língua, o
dialeto. Isso é uma coisa maravilhosa e nós devemos estimular as associações
regionais, mas nunca perder a perspectiva da unidade. Que essa divisão regional,
inclusive de norte e sul não possa servir para nos dividir, que não caminhemos
para esse rumo, porque aí estaremos dando um exemplo muito ruim para as demais
raças e para os nossos filhos que são brasileiros, nossos netos, nossos
parentes, todos os brasileiros que conosco vivem. Vamos nos unir, nós temos um
desafio que através do comando firme que Bonasppetti tem incentivado, e eu já
sou um dos entusiastas dessa idéia, de que ela sirva assim febrilmente a todos
nós, que construamos a nossa casa de Itália. Agora a Praça de Itália já iniciou
a construção. É um projeto de um bilhão e seiscentos milhões, que não vai sair
um tostão para Porto Alegre, vai ser construído, como vocês sabem pelo
empreendimento do shopping. Foi um achado aquilo. Pois ali vai ser construído o
recanto mais bonito de Porto Alegre, que levará o nome da nossa querida Itália,
que sirva também de ponto de união. Mas vamos nos unir em torno da Casa de
Itália, porque ali na Casa de Itália, e nós temos o potencial para fazer,
Vladimir tu que não é italiano, mas na tua mente corre o entusiasmo de
italiano, casado com Denise, aquela querida Italiana. Vamos nos unir, que lá
dentro desta Casa, aquilo pode ser um palácio, nós conversamos sobre isto. Nós
temos potencialidade não para fazer uma casinha pra alugar aqui ou acolá alguma
coisa construída, Ver. Gregol, nós temos potencial para fazer um palácio aqui.
E lá neste palácio que seria a Casa de Itália, tenhamos as divisões regionais
para agrupar todas as regiões que fazem presente na nossa colônia Italiana aqui
de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, mas estejamos unidos em torno desse
desafio.
De
minha parte meu caro Bonasppetti, já estou inteiramente imbuído em campanha
para que um dia nós possamos concretizar esse ideal e construir aqui em Porto
Alegre a nossa Casa de Itália. E tenho certeza que muito breve, se todos se
impregnassem dessa idéia, nós haveremos num já, construirmos uma Casa, que
servirá para congregar, para confraternizarmos entre nós, entre as regiões,
entre as Cidades, entre os diversos dialetos. Coisa maravilhosa divulgada por
nossos filhos e confraternizarmos com os demais da Cidade, que esta Casa sirva
para receber, para divulgar as coisas da Itália, a todos quantos tenham
admiração e convívio conosco.
Esta
é a conclamação, que modestamente, como membro Vereador desta Casa, faço neste
momento, com uma mensagem que deixaria aqui hoje para que todos nós nos unamos
em torno desta idéia e possamos quem sabe no ano que vem, não sei se estarei
aqui, porque este é ultimo ano de legislatura, mas vou procurar estar. Mas se
não estiver como Vereador, estarei como ouvinte, alguém haverá de fazer a
homenagem a Itália. Mas vou fazer todo empenho de que seja eu, para que
possamos estar aqui, quem sabe dia 2, 3 ou 4 de junho, porque nem sempre coincide
aqui com a estrutura da Casa, já com a feliz idéia de que a construção estará
em andamento quem sabe até concluída a nossa Casa de Itália.
Conta
comigo, Adriano, com esta iniciativa e tenho certeza que contará com o apoio de
todos os Italianos de boa vontade. Muito obrigado, um abraço a todos.
(Revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Passamos a palavra ao nobre Ver. Giovani Gregol, que
falará em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores.
O SR. GIOVANI GREGOL: (Menciona os componentes da Mesa.) Esta
homenagem é sempre uma honra renovada à Bancada do Partido dos Trabalhadores
nesta Casa que ao mesmo tempo é a Bancada governista.
A
nós cabe, junto com outros partidos menores, a responsabilidade alta de
governar esta Cidade de quase 1,5 milhão de pessoas e também a este Vereador
que vos fala, pessoalmente, vir aqui, mais uma vez, homenagear a República
Italiana.
Em
primeiro lugar gostaria de pedir escusas pelo atraso, mas a Sra. Secretária de
Educação do Município, Dra. Esther Grossi me chamou para tratar de assuntos de
emergência e em função disso repassamos ao Ver. Vicente Dutra, já tradicional
solicitante desta reunião, a representação do nosso Partido, mas estava
nervoso, ansioso por chegar e já chegando na Casa ouvi a canção, não perdi,
felizmente, a bonita canção do nosso amigo Ver. Ervino Besson, também
tradicional freqüentador deste momento. Para mim, esta Casa homenageia todos os
anos vários paises, várias nações, várias nacionalidades, culturas; para mim a
homenagem à Itália, por motivos óbvios é a mais importante, a mais carregada de
emoção e de sentimentos por ser descendente direto apesar de haver nascido em
Porto Alegre, mas tem muito da sua vida, da sua cultura marcada pela cultura
dos imigrantes italianos, que aqui vieram engrandecer o nosso País. Não
pretendo repetir o que disse nas oportunidades anteriores, da cultura italiana,
que é uma das principais culturas pois é uma cultura milenar, e uma das
principais contribuições da chamada cultura ocidental: a história de Roma, que
é a base da cultura ocidental, que resgatou o cristianismo, a própria estrutura
do império romano adotou a si a religião cristã, a principal religião, e com
esta fusão, das suas várias contribuições, pois era uma religião de origem
oriental, onde viveu, morreu Jesus Cristo é o Oriente Médio, através dessa
fusão se propiciou de tudo isso que é hoje a dita cultura ocidental cristã, com
tudo que ela traz. Amanhã dia 05 de junho, estamos em plena Semana do Meio
Ambiente acontece a chamada maior conferência, maior encontro de chefes de
Estado, onde se tenta redirecionar a nossa civilização ocidental, que hoje já
tomou conta do mundo, porque o Oriente, a Coréia, o Japão adotaram a nossa
forma de viver e de pensar, aonde a contribuição italiana, da Renascença, do
Nacionalismo, do Humanismo tem o peso decisivo de consertar aqueles erros que,
como em qualquer cultura que já existiu e que certamente irá existir, a nossa
também tem. Mas, tenta corrigir.
A
própria tradição científica, a tecnológica, a religiosa ainda hoje, e talvez
com significado imprevisto para o futuro, talvez mais importante do que
possamos imaginar, o cristianismo especificamente, o catolicismo, inclusive
através de S. Santidade o Papa, exerce sobre a opinião pública internacional
uma influência bastante grande, até inusitada àqueles que achavam que a nossa
época era de descrença, uma época de pouca fé. Mas, parece-me - esta é uma
avaliação muito pessoal – que assim como cresce a consciência, renasce a
preocupação com a natureza, como ambiente, também renasce – ou deve – a fé nas
coisas do espírito, através do cristianismo, através de outras tradições.
Agora, domingo, chega a Porto Alegre S. Santidade o XIV Dalai Lama, que é o
líder espiritual de centenas de milhões de budistas pelo mundo afora, que nos
dará a honra de sua visita e nesta semana recebeu o Título de Cidadão
Porto-alegrense, dado por esta Casa, por unanimidade.
Sempre
gosto de comparar o Brasil, nossa pátria, com a Itália, e encontrar as
diferenças e identidades. As diferenças são muitas. Algumas saltam aos olhos,
como a extensão; o Brasil é um gigante territorial; a Itália é um gigante
cultural, sua história. No Brasil, se fala uma única língua; na Itália,
duzentos dialetos e é um território um pouco maior que o Estado do Rio Grande
do Sul. Mas, somos latinos, falamos línguas que vêm do latim – a nossa, o
português, chamado a “última flor do Lácio”. Temos muito em comum. A Itália é
uma simplificação, é uma espécie de Brasil que deu certo, um povo de cultura
latina, de longa tradição cultural, talvez não fosse o nosso caso, mas se
formos considerar os povos indígenas nós temos no Brasil 30 mil anos. Os
arqueólogos já comprovaram que o homem habita o que hoje é o território
brasileiro há 30 mil anos, pelo menos comprovado até agora. Países, como no nosso
caso que é pobre, continuam muito pobres, parece que se empobrecendo
ultimamente, mas esperamos que isso seja temporário e a Itália é um país que
saiu da guerra, país com muitas riquezas naturais mas que saiu da Segunda
Guerra Mundial arrasado, como hoje o nosso país que não saiu de nenhuma guerra,
aparentemente, mas vive uma espécie de guerra civil. Está com a sua economia,
através da política recessiva, arrasada, mas a Itália soube unir o seu povo com
democracia, através de uma república que negou um regime totalitário, viveu,
aprendeu e renegou o regime totalitário do fascismo e através de uma democracia
que é uma das mais perfeitas do mundo, com absoluta liberdade de todos os partidos, comunista, socialista,
democratas-cristãos e assim por diante, conseguiu unir e conseguiu hoje ser uma
das principais potências econômicas. Isso seria pouco porque eu acho que a
riqueza por si só não se justifica, ela só se justifica na medida em que ela
traz melhoria da qualidade de vida, mais felicidade, que é uma coisa que os
economistas não conseguem medir, infelizmente, e por isso alguns acham que não
é importante e a Itália conseguiu fazer o seu povo mais feliz, viver uma melhor
qualidade de vida. Isso é um exemplo muito grande, eu pelo menos penso assim,
porque há aqueles que sustentam ainda aquela tese absurda que o mundo latino
não dá certo, que só os povos dos climas temperados é que deram certo, só essas
civilizações. Está aí o Egito, uma das maiores civilizações que já existiram e
que absolutamente não vivia num clima temperado e a Itália, mais recentemente,
mostra que não é assim, que é possível ter riqueza com democracia e
resguardando a adversidade, que é uma das características que temos em comum
com a Itália.
Eu
fiz uma comparação com a língua, mas as diferenças culturais, as diferenças
geográficas que a Itália tem dentro da sua pequenês que é apenas geográfica
corresponde a muitas das complexidades que o Brasil também tem e que ele também
não consegue concatenar. Também a boa administração que foi citada antes pelo
Ver. Ervino Besson dos recursos naturais como é que a Itália consegue ser uma
potência com tão poucos recursos naturais, com pouca água, com pouca energia,
isso é um exemplo pra nós que desperdiçamos tanto os nossos recursos. E ainda
somos um dos povos mais pobres do mundo. E a Itália, para concluir, o Ver.
Vicente Dutra percebeu muito bem, nesse momento em que a Itália, em que o
Estado italiano, em que a própria nação chora um dos seus filhos mais ilustres,
nesse momento em que alguns inclusive na própria Itália e pelo mundo afora,
temem, reconhecendo ou não publicamente o futuro da democracia e da república
italiana, nós não poderíamos deixar aqui também de assinalar este aspecto e
dizer que nós nos preocupamos, nós brasileiros, nós principalmente
ítalo-brasileiros nos preocupamos, nós damos solidariedade a nossa segunda
Pátria que é a Itália e também nós temos para ela os olhos voltados no sentido
de que ela continue sendo o exemplo para nós. Porque lá na Itália se assassinou
o juiz Giovani Falconi, através dele se tenta assassinar a democracia. Lá na
Itália a máfia está fora do Governo. Fala-se em crise de governabilidade. Vejam
que interessante, exatamente o que se fala aqui no nosso País hoje, fala-se lá
em denúncias. Lá a máfia está fora do Governo, não vou dizer mais nada os
senhores entenderão. Aqui se fazem denúncias seríssimas contra a pessoa do
Presidente, não se sabe qual é o nosso futuro político. O nosso futuro
econômico, isto a curto, longo e médio prazo. Alguns falam inclusive em impeachment
falam da possibilidade ou até da necessidade do Vice-Presidente, ou do
Presidente da Câmara assumir, então são dias paralelamente tristes. Mas a
Itália já está dando de novo exemplo ao mundo, já está superando este momento.
O Parlamento Italiano escolheu um novo chefe, a Itália não está acéfala, e o
Estado italiano de mãos dadas com o povo está e continuará combatendo esse
câncer que é a máfia e outras uniões e malfeitores que existem naquele País.
Que exemplo para nós brasileiros? Que grande exemplo para nós brasileiros, que
não devemos apesar das dificuldades desistir como os italianos não estão
desistindo. E tendo a bandeira da Pátria e a felicidade do povo, tanto o
italiano como o brasileiro, juntamente com o sentimento profundo de humanidade,
de religiosidade até, que é um dos fatores comuns entre as nossas culturas, as
nossas histórias, nós também saberemos, se Deus quiser e com a ajuda de todos,
superar esses momentos tristes que o nosso País vive e reafirmar a soberania do
nosso povo e o seu direito à felicidade. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Antes de passar a palavra ao próximo orador, comunico
o recebimento de mensagens do Secretário Jorge Debiagi, titular da Secretaria
de Obras do Estado; do Vice-Governador João Gilberto Lucas Coelho; do Dep.
Marcelo Mincarone e do Governador do Estado Alceu Collares, todos se
manifestando com carinho em relação a esta homenagem e escusando-se da ausência
por compromissos anteriormente assumidos.
Tenho
a honra de passar a palavra, para falar em nome da República da Itália,
homenageada nesta data, ao Dr. Adriano Bonasppetti.
O SR. ADRIANO BONASPPETTI: Exm° Sr. Presidente da Câmara Municipal de
Porto Alegre Ver. Dilamar Machado; demais autoridades presentes; demais pessoas
que aqui comparecem. Agradeço em nome do Cônsul-Geral da Itália Dr. Martini,
que devido a compromissos assumidos anteriormente não pôde comparecer a esta
Casa, a esta homenagem que a Cidade de Porto Alegre, pelos seus Vereadores,
está fazendo ao nosso País por ocasião da sua data nacional. A nossa gente se
adaptou facilmente e está totalmente integrada na sociedade local, contribuindo
com muitos valores para a formação do gaúcho de hoje. Um terço da população do
RS atualmente é de origem italiana e muitos são os casamentos mistos. Isso
seria o suficiente para ressaltar a importância da nossa etnia para essa
comunidade. Mas quero também dizer que nós, italianos, participamos, em muitas
outras ocasiões na formação deste Estado. Os primeiros imigrantes foram alguns
genoveses, marinheiros e comerciantes, que se instalaram em Porto Alegre e em
algumas cidades do litoral, especialmente Rio Grande. Posteriormente, na Guerra
dos Farrapos – hoje pouca gente lembra os nossos italianos tiveram uma
participação bastante grande. Tito Livio Zambecari, que foi aprisionado em
Fanfa junto com Bento Gonçalves, foi um dos líderes da Revolução. Tivemos
Rossini, um jornalista dos Farrapos, aquele que redigia o jornal dos Farrapos,
tivemos entre muitos outros italianos que participaram dessa epopéia, o nosso
conhecido Garibaldi. Garibaldi foi um marco na formação do Estado e não foi só
ele, foram dezenas, centenas de outros patrícios que participaram da Guerra dos
Farrapos. Depois chegaram os vênetos, os lombardos, que saíram da Itália por
causa das guerras da Independência. Vêneto, a Lombardia, especialmente Vêneto,
foram campos de batalha e como esses povos eram praticamente agricultores,
tiveram suas terras arrasadas, perderam as colheitas e muitos tiveram que
emigrar. Pobres, sem nada, vieram aqui para ajudar na formação deste Estado.
Alguns lombardos, aliás, muitos, trentinos e também houve outra emigração, dos
meridionais, calabreses, especialmente, que vieram para Porto Alegre, também se
fixaram no Sul do Estado, o que pouca gente sabe, em Santa Vitória do Palmar,
alguns em Livramento. Vieram sicilianos, portugueses, também, temos aqui o
nosso amigo Rosenato que está presente. De todas as regiões da Itália, creio
que não falta nenhuma região aqui neste Estado. Os meridionais se instalaram
mais nas cidades, como comerciantes e artesãos, os vênetos e lombardos, como já
disse, como agricultores, mas todos trabalharam e contribuíram para que este
Estado progredisse e chegasse ao que hoje é, um dos principais do País.
Não
preparei discurso, não quero me delongar neste momento, mas acho que não tenho
muito a dizer, porque todos conhecem o trabalho da nossa comunidade, realizado
neste Estado, neste País e no mundo inteiro. Hoje existem mais de cem milhões
de italianos, ou descendentes de italianos em todo o mundo, fora da Itália
existem mais italianos do que na Itália, como existem mais moraneses fora de
Morano Calabro. Falo em moraneses, porque Porto Alegre é uma segunda Marano
Calabro e são italianos também.
Então,
voltando à questão Porto Alegre, quero também agradecer a esta Casa por ter-nos
brindado com um terreno, não à nossa comunidade, mas ter dado o nome de Praça
de Itália a um terreno de onze mil metros quadrados, num dos locais mais nobres
de Porto Alegre, aqui perto do shopping Beira Rio e que em breve será
construído a Praça Itália neste local.
Também
agradeço a presença de todos que aqui estão para homenagear a nossa data
nacional. Muito obrigado a todos.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Quero agradecer a todos, em nome do proponente, Ver.
Vicente Dutra; agradeço a honra de estarem conosco na Mesa, aos amigos
italianos: Carlo, Adriano, D. Inês, Jornalista Lisboa representando o Prefeito.
Agradeço a todos que se fizeram presentes.
Estão
encerrados os trabalhos.
(Levanta-se
a Sessão às 18h15min.)
* * * * *